27 fevereiro, 2012

S/título


Ergo os olhos acima da linha
de água e contemplo
os versos que os seixos desenham
à tona de mim.
Mergulho as mãos, pelo avesso,
no espelho da bacia e desconheço
o cheiro a mel e amêndoas
no fundo das palavras.
À superfície, boiam mortas as folhas
de oliveiras ancestrais;
mas no fundo, lá bem no fundo,
é o teu rosto que me assombra...

21 fevereiro, 2012

"Amanhã Chovi" - a minha obra de estreia literária

Já se encontra à venda o livro de poesia "Amanhã Chovi", obra assinada por mim sob o alterónimo Alexandre Homem Dual, com selo da Corpos Editora/World Art Friends. Quem o quiser pode comprar directamente à editora (em versão livro ou em versão e-book) ou, dentro de alguns dias, nas livrarias. Outra opção é encomendar "Amanhã Chovi" directamente ao autor (ou seja eu), para tal enviando um e-mail para amendual@gmail.com. Para além de um desconto de 10%, ficará com um exemplar com dedicatória e devidamente autografado.




"Delacroix, o pintor, disse certa vez que toda poesia é de circunstância. (...) Amanhã chovi é um livro de circunstância. Parece não falar do agora, usa tempos verbais que se contradizem, usa termos em desuso, abusa das palavras ilimitadas e dos versos que sabem ao que já não está aqui. O poeta, no entanto, consegue aquilo que procura – as palavras não têm tempo, elas permanecem. E a sua permanência diz o tempo presente. A poesia não tem tempo. Ela, quando de facto existe, como neste livro, diz-se a si mesma e às nossas circunstâncias."

Mirian Nogueira Tavares, in prefácio a Amanhã Chovi

13 fevereiro, 2012

S/título

Os dedos frios e metálicos
de uma morte lenta, humana, quente,
escavam a carne e cavam o osso
por dentro, lá onde o futuro
se pode confundir com a alma das gentes.
A voz, anémica, desprende-se das palavras
que ficam, solitárias, nas folhas cobertas
de pó de um jornal, aberto, a preto e branco.
E o silêncio que só é trazido como lembrança
pelo vento que vira as folhas rasgadas...

04 fevereiro, 2012

Os Abutres

Os abutres abriram as asas e foram construir casas
Lá no alto do céu onde não chega o fedor dos mortos.
Voaram sozinhos e deixaram para trás os ninhos
Onde os filhos ficaram aprisionados.
A cabeça calva deixa à mostra a pele muito alva
Dos necrófagos infantes.
E de barriga vazia só um deles é que pia
Ao sentir o cheiro dos mortos.
As árvores já perderam as folhas e as garrafas as rolhas:
Derramou-se o vinho no chão.
Há uvas esmagadas nas ruas empedradas da nossa nação…