08 abril, 2012

Paisagem: o amor aos olhos de um jovem

"Young men's love then lies
Not truly in their hearts but in their eyes"

Shakespeare, in Romeo and Juliet



Reduzamos os jovens no geral
A um jovem e metaforizemos
As paixões nos passarinhos que temos
a esvoaçar-nos, livres, p'lo quintal.

A adejar-lhe, com as asas vibrantes,
Passa no quintal do jovem a vida
Excitante, eléctrica, colorida,
Como os olhos das fogosas amantes.

Mas alimenta, no peito amarrada
Como se numa casota de cão,
A servil e comprometida amada.

Residirá pois o amor deste jovem
(Ao invés de no imóvel coração)
Nos saltitantes olhos que se movem?

S/título


Terão morrido os poetas?
Terá morrido a ânsia de inventar novas poesias?
Novas teologias?
Novas ânsias de ansiar?
Terão perecido as borboletas que pousaram uma vez
nos meus ombros para me ressuscitar?
Sobreviverão só as larvas que se alimentam do bolor?
Ter-se-ão silenciado as vozes
que me falaram de amor?...

07 abril, 2012

Promessa de bons dias


Ela levantou-se da cama e abriu a janela,
para que a madrugada lhe beijasse a carne
branca e macia do interior das pernas - o ponto
quente onde as coxas se juntam. Os pássaros,
vestidos pelas folhas das amendoeiras,
cantavam a primeira luz da manhã - o horizonte
carmesim & cor-de-rosa como as pétalas
das rosas abertas. Na cama, eu esperava
que ela regressasse ao lençol tépido
da ausência do corpo dela; esperava eu
pelo corpo agora frio dela. Quando ela veio,
trouxe consigo a promessa de um raio de sol
e eu, cheirando-lhe o ponto quente de onde
as coxas se separam segredei-lhe vagarosamente
os bons dias numa língua secreta só de nós conhecida.