28 julho, 2013

A casa

A casa 
nascera a meio de uma montanha verde
por entre a vegetação múrmura
do inverno

Ao seu lado,
um riacho silencioso corria
descendo do cume,
serpenteando
pelo corpo inclinado
da terra

O musgo trepara pelas paredes
como se a boca da montanha houvesse
engolido a arquitectura humana -
e os vidros das janelas eram líquidos:
escorrendo lentamente
com as chuvas

No riacho nunca se soubera
da existência de peixes -
no líquido amniótico
apenas crianças por nascer:
a vida em suspensão


E pássaros? Nunca por lá ouvi o chilrear dos pássaros

18 julho, 2013

S/título

Todos temos ossos plantados
num jardim, nas memórias
como terra esgravatada pelos dedos
cheios de calos

Sob as unhas sujas
todos guardamos palavras
de amor e de afecto
que cresceram dentro das raízes
dos nossos corpos

Busco o silêncio liso
da superfície do outro lado
do espelho,
a tranquilidade que os braços
da terra oferecem
aos mortos