20 agosto, 2014

a morte um dia

embalar-nos-á a morte um dia
quando o grande relógio cessar de rodar os ponteiros
dizendo-nos a sua inércia que é a hora
de partir chegada

confortar-nos-á a morte um dia
quando oferecer o toque de um mamilo frio aos nossos lábios
que abocanharão seios murchos e vazios
de onde derramada toda a vida

beijar-nos-á a morte um dia
quando lhe sorrirmos em boas-vindas e abrindo o peito
como quem abre portas há muito fechadas
a convidarmos a entrar

abraçar-nos-á a morte um dia
entretanto beijemo-nos nós
confortemo-nos e embalemo-nos nós
enquanto abraçamos a vida
meu amor