as pálpebras batem palmas tão rapidamente
29 agosto, 2010
Natureza Morta: peça de caça e amêijoas numa caçarola
as pálpebras batem palmas tão rapidamente
24 agosto, 2010
S/título
Arrancados do corpo os espinhos, as feridas servirão
Agora para dar de beber aos habitantes do deserto.
O sangue que lhe corre pelo corpo – esse mesmo corpo,
O corpo do poema – escorre para a boca dos famélicos.
E dos que dançam a chuva para matar a sede. Arrancadas
As almas polissémicas às palavras – essas mesmas palavras,
As palavras que não são do poema – o que resta para lá do corpo
Despido e cru, ungido e nu, que um dia nos foi pão
Mas hoje nada mais que memória?
Como uma mortalha envolta em redor do coração...
06 agosto, 2010
S/título
no lânguido arrastar das cordas dos violinos
04 agosto, 2010
A Besta e a sua Cadela
Ei-la! A Besta! A arauta do Incesto!
Vejam: dois campanários do desnudo
Peito se lhe erguem, do peito peludo…
Tocam sinos de badalar funesto.
Rasga-lhe a pele e a carne a satânica
Igreja que das vísceras nasceu,
E ergue-se do seu berço-mausoléu
Como arquitectura biomecânica…
E, nascido o santuário profano,
Os seus pórticos abrem-se de par
Em par, do interior vindo susano
Ser, licantrôpega deidade e bela,
Que humana mulher vem a procurar,
A quem possa fazer sua cadela…
Dom Sebastião
Por entre o nevoeiro do amanhã
Nascido de uma manhã de nevoeiro, a névoa
Deixou as suas pisadas na neve que cobria
O pathos de uma tragédia grega
Ensaiada no deserto.
E é quando a selenita placenta de uma nação inteira
Se desagrega
Do útero matriarcal
Que os atiçadores de palavras e os escrevinhadores de incêndios
Se apercebem que é
A violência o último Dom Sebastião dos fracos…
Quando tatuaremos a Mensagem na Carne como quem marca o gado?
Quando tragaremos novamente o Mar como quem bebe sangue?
Quando carpiremos o Céu com lágrimas de fado?
Quando conquistaremos o Passado que nos fita Adiante?...