24 agosto, 2010

S/título


Arrancados do corpo os espinhos, as feridas servirão

Agora para dar de beber aos habitantes do deserto.

O sangue que lhe corre pelo corpo – esse mesmo corpo,

O corpo do poema – escorre para a boca dos famélicos.

E dos que dançam a chuva para matar a sede. Arrancadas

As almas polissémicas às palavras – essas mesmas palavras,

As palavras que não são do poema – o que resta para lá do corpo

Despido e cru, ungido e nu, que um dia nos foi pão

Mas hoje nada mais que memória?

Como uma mortalha envolta em redor do coração...