Arrancados do corpo os espinhos, as feridas servirão
Agora para dar de beber aos habitantes do deserto.
O sangue que lhe corre pelo corpo – esse mesmo corpo,
O corpo do poema – escorre para a boca dos famélicos.
E dos que dançam a chuva para matar a sede. Arrancadas
As almas polissémicas às palavras – essas mesmas palavras,
As palavras que não são do poema – o que resta para lá do corpo
Despido e cru, ungido e nu, que um dia nos foi pão
Mas hoje nada mais que memória?
Como uma mortalha envolta em redor do coração...