24 maio, 2013

Paisagem: uma noite de verão

À beira-mar, corpos nus e dormentes,
aquecidos à luz de uma fogueira,
embriagam-se com os cheiros quentes
que se evolam, dançantes, da madeira.

Ergue-se e, ao ritmo das ondas do mar,
ela morde os lábios que ele deseja -
sabendo que ele os come com o olhar,
sensuais, carnudos, cor de cereja.

Move-se em círculo ao redor do amante,
dá-lhe à boca o vinho deleitante
e inebria-o no aroma da pele.

Senta-se em cima dele e dança um tango:
nos beijos traz o sabor de um morango
e entre as coxas o saibo do mel...

20 maio, 2013

Paisagem: o preço do teu silêncio

Ao longo da vereda a pele habita a poeira e os olhos
procuram no palco os actores onde na verdade só há
máscaras e pedras.

A cortina negra encerra-se sobre a hora crepuscular
quando todos os pássaros já se recolheram aos ninhos,
quando todas as cadeiras estão vazias mas persiste
a voz de alguém, talvez apenas um eco que teima em não morrer
na vastidão do deserto, e o espectáculo ainda assim deverá começar.

No final, os cumes das rochas cortarão a carne sob a forma de palavras
e o dia curvar-se-á, em vénia, fundindo-se com as sombras do cenário.

Interrogas-te quanto custa um bilhete para a sessão de amanhã,
quando derem fruto as árvores dos que nelas foram crucificados?
Nada mais nada menos, jovem leitor, que o preço do teu silêncio.