Ao longo da vereda a pele habita a poeira e os olhos
procuram no palco os actores onde na verdade só há
máscaras e pedras.
A cortina negra encerra-se sobre a hora crepuscular
quando todos os pássaros já se recolheram aos ninhos,
quando todas as cadeiras estão vazias mas persiste
a voz de alguém, talvez apenas um eco que teima em não morrer
na vastidão do deserto, e o espectáculo ainda assim deverá começar.
No final, os cumes das rochas cortarão a carne sob a forma de palavras
e o dia curvar-se-á, em vénia, fundindo-se com as sombras do cenário.
Interrogas-te quanto custa um bilhete para a sessão de amanhã,
quando derem fruto as árvores dos que nelas foram crucificados?
Nada mais nada menos, jovem leitor, que o preço do teu silêncio.