30 dezembro, 2008

?


Quem me responde:
Será mais valioso
Um Picasso
Em tempo de paz
Ou um pão
Em tempo de guerra?

Pelagus (VI)


Crê-me,
Há uma adoração acrónica
Na rima assonântica
Dos nossos corpos celestes
Se despidos das vestes
Com que o Cosmos nos tapou.
No espaço sideral não há espaço
Para a hesitação.
O que teus astrolábios me mentem
Desmentem
Os olhos anosos e sábios
Das estrelas
Que alumiam a tua
Face
E que vêem
Para lá
Do lado lôbrego da lua.

Pelagus (V)


Protões,
Neutrões,
Electrões,
-ões numa frenética
Pulsão
Friccionando a nua matéria
Original
Até um estado de
Absoluta
Excitação.
E uma simples telefonia
Em FM
Consegue captar
O universo
Primordial
A gritar.

18 dezembro, 2008

Suspenda-se-me...


Suspenda-se o tempo
Maduro, caído
Do ventre arbóreo.

Suspenda-se o momento
Severo, saído
Da pena que sentencia
Um juízo sancionatório.

Suspenda-se o movimento
Da guilhotina
Que separa o sopé do cume.

Suspenda-se a mim
A mão de fumo que me acaricia
Antes que a mão de fumo que me acaricia
Se esfume.

14 dezembro, 2008

3 micros acerca da vida e da morte


1) "Qualquer dia mato-me", costumava dizer. Entretanto, ia vivendo.

2) Se soubesse que amanhã ia morrer, matava-se já hoje.

3) Preocupava-se tanto com a morte que se esqueceu de viver.

11 dezembro, 2008

S/título

Não creio no passado
Pois sei que o tempo é curvo e não linear
Como uma recta.
E não creio também na moral que é recta
E tampouco creio na lógica que é dedutiva.
A curvatura do tempo
Torna o passado e o futuro
E o presente
Um só momento.
Por isso não creio no tempo.
Sou crente do Agora que me mente
E dos meus sentidos que me induzem em erro.

04 dezembro, 2008

Os Dias de Hoje


Nos dias que correm, talvez o melhor
Fosse simplesmente desligar a televisão e o rádio,
Rasgar as páginas dos jornais e das revistas em mil pedacinhos,
Pegar na enxada e ir para o meu quintalinho
Revolver, verso ante verso, a minha parcela de terra…
Mas uma vez lá fora (cá dentro…), quando olhasse para o sol
Lembrar-me-ia que o sol que banha o meu quintalinho
É o mesmo sol que banha os enormes latifúndios dos grandes
____________________________[senhores da guerra
E lembrar-me-ia quão inútil e patética
Seria uma religião pessoal de alheamento e apatia
Ainda que aquele fosse humanitário e esta ascética…