22 março, 2010

Da lúgubre peste

Hoje, publico algo em que participei mas que, em boa verdade, não é meu. Trata-se do poema "Da lúgubre peste" de Gavine Rubro. Qual a razão de o publicar aqui no Amendual? Participei na sua construção. Mas não é meu. Porquê? Porque tentei, mantendo a minha identidade, adoptar o estilo de Gavine Rubro. Em suma, tentei ser Gavine. Quais os versos que são da minha autoria e quais os que são do Gavine não é a real questão, no meu entender, ao ler este poema. Aliás, não há questão alguma. Há um poema. Leiam-no.
Obrigado, Gavine.

Rudimentares prazeres
Utopias em enorme porção
Venenos viscosos para beberes
A letargia que urge pela sua decapitação...
A garganta que se abre, negra, abissal,
Até ao pulmão que respira e baforeja
O punho de fumo escrito no punhal
em sanguinolenta cor de cereja...

Da faringe, nas goelas, pelas gengivas
A bárbara degolação do plasma da procriação
De fomes, sedes, securas, magrezas
Como as avarezas das salivas superlativas sobre imitação…
E é no mimético decorrer da arte sobre a vida
que a vida se finge, plástica, sobre a tela;
Enquanto o corpo, cidadela de pedra construída,
em mil e um grãos de areia se esfarela...
Em areias conspurcadas na cinética da língua
A garganta abre-se num enigma rupestre
As poções, os vírus, doenças, seivas em capicua
E quem sabe o que já é feito da lúgubre peste...