23 junho, 2009

Rei Édipo


A Rei Édipo de órbitas vazias
Assalta todas as noites um sonho:
Olha-se a si com um olhar medonho,
Em vez de olhos, duas fotografias.

Arrancados, no chão, têm gravados,
Na retina, dois momentos brutais…
Num, o filho matando o seu pai,
Noutro, o filho com a mãe deitado.

Assim, patricida e incestuoso,
A si próprio Édipo se cegou…
Qual dos vis actos o mais vergonhoso:

Derramar o sangue que o criou
Ou seduzir a mãe que, anjo, casta,
Foi puta na hora de dizer basta?...

03 junho, 2009

as palmas


incerta e titubeante a luz começa por trémula
encher amarela e líquida timidamente a lâmpada
como se o medo de se mostrar aos olhos da escuridão
fosse acima de tudo uma questão de vida ou morte
num segundo momento a luz agora já lasciva e sensual
apodera-se de todos os recantos da sala onde
no seio da escuridão os dois corpos contra–
–acenam
.................parado o dela
.................só os olhos se movimentam
.............._deixando antever a brancura das órbitas
.............._mexendo-se o dele
................deixando espreitar-se a brancura das nádegas
e eis que a luz possui total completa e despudoramente
a plenitude da sala deixando antever a vermelhidão
do pano que no final do espectáculo haverá de cair
quando uma mancha de sangue cobrir finalmente todo o cenário
a luz iluminará o corpo das palmas que o público
freneticamente bate
.......................................................................onanista

02 junho, 2009

Pelagus (XXX)


A viagem já não será redonda,
Nunca mais.
Assim, renuncio a forçar o tempo
_________...._a regressar a casa,
Entrego-me moribundo no espaço
Às marés quentes do teu regaço
Onde o galear das ondas convida
A aceitar o prazer do amor
.............................._e da morte
No horizonte obscuro do teu olhar
Repleto de vida.