14 janeiro, 2010
Europa
Um punhado de areia neva-te os olhos
Seca-te os olhos, cega-te o sangue. Ceifa
Num só golpe e mortal a ceara que alimenta
Os ócios negros da melancolia. Alheia-te
Do sabor a abandono que te percorre a pele
E te povoa os sonhos. E sonho-os de olhos abertos.
Estilhaçadas, as cúpulas caem sobre ti como
Gotas da chuva que não chega, não importa
O quanto tu dances… líquidas, perfurantes,
Laminadas, as palavras dançam na tua prosódia
Com o sábio desconhecimento dos velhos sábios
De uma Antiguidade grega ou quem sabe romana.
Há vampiros de carne escondidos sob o manto marmóreo
Da lúxuria persa. Europa. Viagens. Fumo. O movimento fálico
Dos inter-rails. O orgasmo numa estação de comboios polaca mesmo
Na fronteira de um piscar de olhos às estepes russas. O som
Da areia que nos chove em imagens fotográficas. Trovejantes.
Lucíferas.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Europa"
"O que faço?/
Sou músico./
O que toco?/
Poesia."