21 outubro, 2009
Made of...
Sou feito de
Carne,
Pele,
Ossos,
Poros,
Sangue.
Sou feito de
Ideias que devoro
E regurgito
Até estar morto,
Exangue.
A minha língua é
O porto onde me
Ancoro.
E de onde mergulho
Para me achar
No perder-me.
Tudo o que produzo
O meu corpo expulsa,
Nada me fica.
Palavra nova,
Velho verbo,
Sentimento,
Filosofia,
Poesia,
Excremento,
Suspiro,
Orgasmo,
Lamento,
Nada me fica.
Até o meu coração o escrevi aos filisteus.
E nem os meus versos são realmente meus.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Amanhã Chovi",
Poesia
Da Teoria Poética
Não tenho, ao contrário de outros muitos, uma teoria literária ou sequer uma poética. Para mim, escrever é um acto semelhante aos actos de comer, beber, cagar: uma necessidade fisiológica. Talvez a minha merda cheire um pouco pior do que a desses muitos outros. Talvez. Mas não deixa de ser merda. A minha e a deles.
20 outubro, 2009
S/título
Dizem que Abel caiu ao pés de Caim,
Qual mártir e fratricida unidos pelo sangue derramado.
E que Caim foi filho da Malvada Serpente que nos tentou a todos.
Tentou e conseguiu…
Mas ele vive na ponta dos esquálidos dedos do Mago
Que sara a pútrida gangrena dos olhos que o observam
– E que o vêem! Sara o Mago
Abrindo feridas com cuspo fechadas, fachadas
Com lágrimas e pus pintadas;
Rasgando as folhas da Árvore Primordial à incestuosa sombra
Da qual Adão e Eva se habituaram a deitar
(Ah, sim, a Humanidade é um animal de hábitos,
Hábitos sob os quais se escondem terríveis segredos,
Como falsos falos pingando salmos e recitando sémen);
Dançando sobre as falhas tectónicas do Paraíso Celestial.
Aos pés de quem cairemos nós? Eu escolho não perecer
Esmagado por titãs de pés de barro. Vem, Mago, lambe
E sara as nossas feridas…
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
07 outubro, 2009
S/título
Ali jaz um sorriso, construído no perfil
Da sombra dos ciprestes, retalhado sob os escombros
Da Torre que te tomei no tabuleiro alvi-ébano
Que as estrelas alumiaram no interior do teu ventre.
Ali jazo eu, como um joker
Fora do baralho, de sorriso esculpido a pedra e a rugas
E imerso num mar de baton rouge... e a lua outonal,
Branca como cristal, reluz
Na pele da tua barriga e das tuas ancas, que sinuosamente
Me chamam a trilhar o caminho das tuas coxas brancas...
No início da jornada, todas as jogadas poderiam
Ser ponderadas e todos os gestos ensaiados. Mas no final,
O que nos resta para lá do momento?
Jogadores somos e sonhadores nós
Os das palavras vãs e dos utópicos amanhãs...
Mas não é a utopia uma mera actriz num teatro onírico?
Uma tétrica meretriz aprendiz de um orgasmo empírico?
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
A Eterna Inseparabilidade dos Amantes
Sentada no trono da madrugada
Enrola-se no corpo do seu escravo e amante
Que a aquece
E lhe cheira os cabelos que lembram o nocturno mar…
Sabe-se dona do mundo e das suas eras,
Sabe que nada nem ninguém os poderá separar,
Nunca nesta vida ou na próxima,
Homens ou feras…
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "De Sons e Sangue - As Memórias de Elizadeth Rose-Maître",
Poesia
Subscrever:
Mensagens (Atom)