28 outubro, 2012
O Outro Lado de Mim
Por vezes interrogo ao silêncio sem sangue
das estrelas quanto tempo demoraria
a separar completamente
toda a carne dos meus ossos
e quanto mais tempo seria, na verdade,
necessário para fazer passar a alma
num sopro pusilânime
para o outro lado de mim?
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
17 outubro, 2012
A boca: uma caverna
A boca: uma caverna
Habitada por ciclopes monstruosos.
Verbos assombrosos, vorazes consumidores de energia.
As vagas rebentam à luz do dia,
Esmagam-se contra as escarpas,
Na solidão da hora escura,
Há um corpo náufrago e uma alma
Por salvar.
Dentes dão à costa, na praia dos canibais,
Como velhos baús e outros objectos pelo areal espalhados.
Um dente de ouro, pendurado pela raíz,
como fosse um relógio de ouro pendurado pela corrente,
marca a passagem do tempo.
O corpo repousa, à tona, quebrado,
Sem sobreviventes, como um navio.
Uma criança desenha na areia e canta,
À porta da caverna, sentindo a aragem
Como o hálito
De uma boca apodrecida,
Sobre como os monstros não existiriam
Se nós não os chamássemos.
Entretanto, as palavras aguardam, dentro da boca,
Pelo cair da noite.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
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