O céu abre-se,
quebrado em pequenos
pedaços de azul,
líquido e frio,
que caem sobre a face
árida da terra.
Há um monstro,
gordo e escorregadio,
vivendo no subsolo
das cordilheiras da solidão:
um bicho esfaimado
alimentando-se de si mesmo mas
que, por dentro, come-
-nos é a nós.
31 dezembro, 2012
Paisagem: as cordilheiras da solidão
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
29 dezembro, 2012
O Jardim de Eros
Num jardim plantado de sonhos
passeiam dois jovens amantes
com as mãos dadas e risonhos,
ignaros do depois e do antes.
Cheiram o perfume das rosas
e entregam-se ambos ao prazer
das sensações libidinosas
que só eles podem colher.
Lá dentro há cravos, girassóis,
flores de cores que só vendo;
cachos de uvas e caracóis
de pêlos púbicos crescendo.
Lá fora, para cá do muro,
passa o tempo que há-de passar,
num jardim plantado de escuro
onde chovem gotas de luar.
passeiam dois jovens amantes
com as mãos dadas e risonhos,
ignaros do depois e do antes.
Cheiram o perfume das rosas
e entregam-se ambos ao prazer
das sensações libidinosas
que só eles podem colher.
Lá dentro há cravos, girassóis,
flores de cores que só vendo;
cachos de uvas e caracóis
de pêlos púbicos crescendo.
Lá fora, para cá do muro,
passa o tempo que há-de passar,
num jardim plantado de escuro
onde chovem gotas de luar.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
26 dezembro, 2012
As Cotovias
Pousam as cotovias nas estrelas,
Nos galhos nocturnos do infinito.
Piam umas às outras como vozes
Que sussurram no espaço fechado
De uma hora que não chegou.
Batem as asas e voam desenhando
As letras invisíveis de um verso nunca dito.
Adormecem as coitadinhas e morrem em pleno voo...
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
Paisagem: as ruas da minha cidade são as ruas de Londres
Ao longe,
no mar negro do céu,
no mar negro do céu,
as estrelas são faróis
que a si chamam os olhares
dos viajantes do tempo, projectores
de linhas rectas e de escadas de infinito
que sobem em caracóis.
Sob os pés, cada rua
tem um perfil único e individual,
as pedras das calçadas desenham-se a si mesmas
cada uma com uma irrepetível impressão digital…
Dentro dos bolsos do casaco
trago as mãos quentes agarradas
à vontade de percorrer a minha cidade
como quem descobre o contacto carnal de Londres -
ver o que nunca vi nos lugares já vistos,
crescer memórias em todos os sítios
onde ainda não escrevi nenhum poema.
E desembarcar no cais de um rio de uma margem só,
uma mala numa mão onde guardo os livros e os sonhos
na outra mão a tua mão -
o horizonte onde o rio se deita no mar…
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
24 dezembro, 2012
No País do Amor Todos os Dias é Natal
Neste país onde não cai a neve
subleva-se a pura imaginação
que vê as casas de branco caiadas
como se enterradas sob um nevão.
Neste país sem bonecos de neve
nem por isso deixa de haver amor,
podemos subir às amendoeiras
e construir mil bonecas em flor.
Na tua pele branca como a neve
eu viajo num trenó especial
por todos os países do teu corpo
em que todos os dias é natal.
subleva-se a pura imaginação
que vê as casas de branco caiadas
como se enterradas sob um nevão.
Neste país sem bonecos de neve
nem por isso deixa de haver amor,
podemos subir às amendoeiras
e construir mil bonecas em flor.
Na tua pele branca como a neve
eu viajo num trenó especial
por todos os países do teu corpo
em que todos os dias é natal.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
As meninas dos meus olhos
Lá longe,
à janela,
duas meninas
espreitam
o pôr-do-sol
no olhar
de quem as espia
à janela
da sua infância
como se a janela
fosse uma moldura.
Lá longe,
à janela,
as mesmas meninas
aguardam
o nascer do sol
no olhar
de quem as observa
à janela
da sua velhice
como se a janela
fosse um quadro.
Cá longe,
dentro da janela
que se abriu
dentro das meninas
dos meus olhos
há outras janelas
que se fecham
abrindo portas secretas
lá perto
do instante incerto...
à janela,
duas meninas
espreitam
o pôr-do-sol
no olhar
de quem as espia
à janela
da sua infância
como se a janela
fosse uma moldura.
Lá longe,
à janela,
as mesmas meninas
aguardam
o nascer do sol
no olhar
de quem as observa
à janela
da sua velhice
como se a janela
fosse um quadro.
Cá longe,
dentro da janela
que se abriu
dentro das meninas
dos meus olhos
há outras janelas
que se fecham
abrindo portas secretas
lá perto
do instante incerto...
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
11 dezembro, 2012
S/título
Ao adormecer,
senti o vento gélido vindo do mar
a bater com dedos incorpóreos feitos de ar
à minha janela -
e, ao sonhar,
soube que a espuma fria que me tocava os pés
eram beijos depositados nas marés
por quem me embala
ao colo da noite escura.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Poesia
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