09 janeiro, 2014

Uma Breve Carta de Amor

   Escrevo-te para te dizer que gosto de te ouvir.
   Apeteces-me de cada vez que me falas com essa tua voz lenta e arranhada, metódica e precisa em todas as sílabas, impregnada de um certo perfume preguiçoso das manhãs serôdias em que não nos atrevemos a sair do morno aconchego das mantas.
   A tua voz cheira-me à doçura ácida das maçãs ainda por apanhar. Por detrás de cada palavra que dizes provo o sossego suculento das pequenas dentadas num solarengo dia de primavera depois de uma noite em que houvesse chovido a cântaros. Tu sabes como é, meu amor, o cheiro molhado que se desentranha da terra sob o peso leve e morto das folhas caídas aos nossos pés quando nós fechamos os olhos para melhor o saborearmos.
   Posso sentir o teu hálito em cada vogal que arrastas pelas frases com que passeias pelo meu corpo, o hálito quente e fresco da boca com que me dizes que me queres. Gosto da te ouvir, paixão, mas é no silêncio do teu sorriso que melhor te amo.