10 janeiro, 2012
Paisagem: anjos disfarçados de canibais
Eu cheiro o sangue na ruas
vomitado por animais
e sei que entre nós há anjos famintos
disfarçados de canibais.
Deixaram as asas para trás
algures a meio do caminho -
e hoje Deus (se é que há um Deus)
chora no céu sozinho.
O céu azul de Abril é suavizado
por nuvens brancas como almofadas:
é a cama que Deus fez para si mesmo
com milhares de asas arrancadas.
E enquanto esse Deus dorme no céu,
na terra os homens matam seus iguais -
e sei que entre nós há anjos famintos
disfarçados de canibais.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
"O que faço?/
Sou músico./
O que toco?/
Poesia."