17 outubro, 2012

A boca: uma caverna



A boca: uma caverna
Habitada por ciclopes monstruosos.
Verbos assombrosos, vorazes consumidores de energia.
As vagas rebentam à luz do dia,
Esmagam-se contra as escarpas,
Na solidão da hora escura,
Há um corpo náufrago e uma alma
Por salvar.
Dentes dão à costa, na praia dos canibais,
Como velhos baús e outros objectos pelo areal espalhados.
Um dente de ouro, pendurado pela raíz,
como fosse um relógio de ouro pendurado pela corrente,
marca a passagem do tempo.
O corpo repousa, à tona, quebrado,
Sem sobreviventes, como um navio.
Uma criança desenha na areia e canta,
À porta da caverna, sentindo a aragem
Como o hálito
De uma boca apodrecida,
Sobre como os monstros não existiriam
Se nós não os chamássemos.
Entretanto, as palavras aguardam, dentro da boca,
Pelo cair da noite.