30 setembro, 2009
Paisagem: mulher negra (de lábios pintados) fazendo cachupa
Observada à lupa,
Jô, preta do sol,
Lábios cor de amora,
Quando faz cachupa,
Fingirá que engole
Ou cospe p'ra fora?
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
S/título
Canta, como pegadas invisíveis insonoras,
O canto revelado pela borda do cântaro,
Impressões digitais na fina pele da chuva.
Conta, como quem canta aos lobos para adormecê-los,
Os escalpes dos carneirinhos,
Sanguinolentos-lentos-lentos na sua ainda mais lentíssima hecatombe…
Disseram-me uma vez que a madrugada seria branca e que
Cheiraria, promessas vagas e imprecisas com sabor a rúcula,
Ao azedum do leite derramado nas costas do poema e que,
Escorrendo, se veio a depositar, coalhado,
No espaço sideral entre os teus dentes…
Quando olho a vagina emoldurada pelas tuas alvas coxas
(Brancas como a madrugada que me foi prometida)
E suculentas-lentas-lentas no seu lentíssimo entreabrir de pernas,
Sei cheirar o suor que derramámos amanhã sobre as sílabas
Arrancadas à carne como roupas gentilmente violadas.
Não sei onde caíram os botões que saltaram da tua camisa, dizes-me,
(talvez estejam por entre os lençóis da cama)
Mas acabas por sorrir em silêncio quando o cantarolar
Da chuva batendo no meu peito abafa o cântico da tua poesia…
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
2:3:666
Exauridas as fórmulas antigas
Do pensar grego e da moral cristã
A hora é de clamar a Manhã,
A Luz que junta hostes inimigas.
Nova moral deverá ser forjada
(Um pensar novo será erigido!)
E um luminoso facho ser trazido
Pelo Anjo da Manhã anunciada…
De ter um Pai porém chorar sozinho
Está o mundo farto mas agora
Vem quem lhe descobrirá o sorriso.
Ó mundo, quem te alumia o caminho?
Quem te urge a decidir que é esta a hora
De semear o infértil Paraíso?
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
23 setembro, 2009
S/título
no fundo do faro há-de nascer um cão
cujo pêlo tem o cheiro da terra molhada
num dia de chuva de verão
as folhas hão-de cair como pulgas deicidas
mártires vampíricos esperando a hora da fatídica (in)decisão
nisto
os cães ladram e a caravana
.........................................tres-
..................................................-passa o coração
dos que nunca viajaram para lá da rota
traçada pelos seus pés
e entre tantos
cães
a caravana passa mas não despercebida
só a não viu quem não quiser gritar que
o entretanto é a hora anunciada
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "nova alexandria",
Poesia
21 setembro, 2009
S/título
Reflexo o abismo na monotonia latente
Dos olhos que se escondem por detrás dos teus fantasmas.
Não suspiram nem se entregam num derradeiro estertor
As meninas dos teus sonhos, como
Pupilas deserdadas e bastardas procurando o trilho claro
Da Ciência na obscuridade dos teus sonhos.
Os teus sonhos ai os meus sonhos...
Fechas os ouvidos à Verdade que te mente na palma da mão
Enrugada enquanto abres as pernas à Mentira que te
Seduz dançando nas sombras da luz da madrugada...
Seios as colinas que toco as meninas dos teus sonhos,
Sei-os, sei-os de cor.............(aos teus sonhos...)
Lobos brincando, como ovelhas negras, albinos,
Na fronteira do matricídio e do incesto...
(eis a matilha marchando pintalgada de vermelho
(eis que o hímen se rompeu
(eis que o uivo surge pintalgado de vermelho)
Vem-me.
Come-te e cospe-nos para fora do seu leito.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
13 setembro, 2009
Cortar as Vazas
Vazei-me
A mim de sangue.
Vazei-me
A ti de amor.
Vazei-me a nós e ao sonho que foi nosso
De uma casa branca com um jardim
Outrora verde, hoje sem cor.
Vazei-me como quem vazasse
O velho frigorífico que a velha senhoria fez o favor
De incluir na renda
E que estava cheio de garrafas de cerveja vazias
Que eu voltei a encher com o meu sangue.
No congelador, havia ainda uma garrafa de vodca
Por estrear.
Tirei-a e atirei-a
Para debaixo da cama e enchi-o (o congelador)
Com a tua cabeça cortada – pura expressão do teu horror…
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
07 setembro, 2009
S/título
Parei no equilíbrio
Malabarista
Bruto dos braços
Nas barras paralelas
Das tuas anáforas,
Amiga.
Parei para te escutar
E beber o lago das tuas cântaras
E mergulhar nas tuas coplas
E mergulhar no dístico olhar
Da tua cantiga.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Insanabile Cacoethes Scribendi",
Poesia
01 setembro, 2009
S/título
O sabor amarelo e verde
Dos limões
Misturado com o cheiro azedo
Das mãos
Que espremeram os limões
Tempera a língua dos que provaram
Gota-a-gota
Ao que sabia a raiz ácida do limoeiro.
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "Versos Sem Sentido Consentido",
Poesia
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