06 novembro, 2011

Ying Yang

Ying Yang.
Anjos simétricos
conduzidos pela embriaguez
do incesto.

Quem te disse que os anjos não têm sexo?
não fazem sexo?
não amam o sexo?
como quem ama uma talhada de melancia desfazendo-se
em água no céu da boca?
ou como quem ama o sabor do mel no corpo
lambido pela língua de um amante?
ou o cheiro do leite num ventre frutífero?
Pêras, uvas, mangas, figos, ameixas, dióspiros, cerejas
- há de tudo nos meus poemas e no meu pomar.

O olho procura a simetria da beleza:
busca a ordem primária e os laços sensuais
que nos atam.
Quem se quereria desprender do mundo se soubesse
que para lá do horizonte não há mais que horizonte?
Quem?

A retina - um círculo - uma mandala - o mundo - uma mesa redonda.
Uma vez, disse ele, gostava de provar o sabor de carne humana.
Todos o ouviram mas ninguém o contemplou: os rostos
afundaram-se ainda mais no repasto, em perplexidade,
em agonia,
em sofrimento -
e ele sorria.

Analepse: boa noite, meus senhores,
da ementa de hoje constará cabeças de carneiro
assadas no forno, com batatinhas a murro
a acompanhar.