Ouço o barulho da chuva no calor desta noite
de verão: a procela avançando-me pelo rosto,
pingo a pingo, com o sabor salgado a mar.
Há qualquer coisa de messiânico, diria,
na forma como me prego a Mim Mesmo a este
papel - à medida que a trovoada me sussurra
aos ouvidos à guisa de gargalhadas:
"O Diabo esfregou-me o olho no dia de amanhã
em que o sono da Morte me adormeceu!"
O dia já vai longo e os meus olhos deixaram
pisadas, pestana a pestana, as tórridas areias
da tua cidade-natal. O que
é preciso é ter alma, picou-me o escorpião.
Mas se a não tenho eu, da cruz
quem me desprenderá?