25 março, 2011

Paisagem: memórias de um jardim à beira-mar plantado


Houve um tempo em que o meu país

Era todo um jardim à beira-mar plantado;

E onde, por todo o lado,

Toda a gente era feliz…

Havia arranha-céus erguendo-se aos céus

Como punhos fechados – como rosas por abrir…

Havia auto-estradas ladeadas

De laranjais;

E onde a cada cidadão

Bastava meter a mão

Ao bolso para encontrar uma outra mão –

Cheia de rosas cheirosas, valiosas

– ah nesse tempo bastava estender a mão…

Mas hoje, ai hoje os laranjais

Exalam um odor

A podridão

E os roseirais

Já mal dão

Flor

E as poucas flores que dão

Já nem têm cheiro ou cor

– ai que já nem rosas são…

Ai ai que fazer deste país

Onde o podre nos entra pelo nariz

Enquanto os pés descalços,

Como cascos, calcam velhos caminhos

Repletos de pétalas de rosas e de cascas de laranjas

Espalhadas,

Amontoadas,

Rasgadas,

Pisadas,

Pelo chão?…