30 novembro, 2008

Homenagem a Fernando Pessoa

Acho que entendo o Fernando Pessoa.
O Fernando Pessoa que é o Álvaro de Campos
E o Ricardo Reis e o Alberto Caeiro
E o Bernardo Soares e o sei lá quem mais.
Sim, acho que o entendo.
Não penso que o entendo
Nem sinto que o entendo.
Acho.
Achar é um heterónimo da mescla entre o sentir e o pensar.
E foi no território cinzento que eu achei o Pessoa.
E não acho que entendo o Pessoa-poeta
Ou o Pessoa-poetas,
Mais do que qualquer outro crítico ou leitor.
Nem acho que o entendo sob uma perspectiva clínica
- Nunca estudei medicina nem gosto de hospitais.
Acho que entendo o Pessoa-pessoa, o Pessoa-pessoas.
Acho que o entendo porque me acho nele e me acho como ele
E acho-o a ele em mim e acho-nos Portugal
E Portugal em nós.
Assim foi que Portugal se achou, achando o mundo,
Achando novos caminhos e lugares,
Achando novas formas de achar.
Foi assim, pescadores famintos e fracos,
Agricultores ignorantes e incultos,
Sapateiros sujos e imundos,
Soldados um para selvagens mil…
Em cada um de nós, outro se erguia
E outro espreitava e outro nascia,
Pessoa nascida da alteronímia do heterónimo…
Foi assim que sobre uma doença mental
Cunhámos a ferro e fogo e poesia uma identidade nacional
E conquistámos o mundo, só por achá-lo.
E agora o que achamos nós
Quando a nossa psique foi institucionalizada?