02 outubro, 2008

Amanhã Chovi


Já reparaste que as estrelas são olhos,
Espiões,
Janelas indiscretas,
Através das quais os deuses do anonimato
Nos admiram e desprezam?

Já alguma vez realizaste um filme,
Mudo e a cores,
Ou sonoro e a p/b,
Em que tiveste a Visão, o Olfacto, o Tacto, a Audição e o Paladar
Por espect-actores?

Já assististe porventura a algum concerto
Dentro da tua cabeça
Cujo maestro
Fosse banda e coro e solista todos ao mesmo tempo
E ainda batesse palmas?

Já te deste conta de que somos humanos?
Só humanos?
Divinamente humanos?
E que nunca fomos feitos de barro mas sim de carne
E de sonhos?

Já algum dia olhaste para o vento e cheiraste a chuva
E sentiste que o vento
E a chuva
São os suspiros e as lágrimas de deuses pagãos
E ancestrais?

Já terás tu notado em alguma manhã de nevoeiro
Que o sol,
Que todos os dias nasce,
Fá-lo por ti, pela tua individualidade que é bela
Como raios de luz?

Terás já tu reparado que nasceste e que vives?
Ou fingirás, como eu,
Nascer e morrer
Todos os dias, trepando por um cordão umbilical
Feito de sensações inventadas?

O meu coração anseia pelo dia em que te possa
Segredar ao ouvido:
Amanhã chovi.