30 setembro, 2009

S/título


Canta, como pegadas invisíveis insonoras,
O canto revelado pela borda do cântaro,
Impressões digitais na fina pele da chuva.
Conta, como quem canta aos lobos para adormecê-los,
Os escalpes dos carneirinhos,
Sanguinolentos-lentos-lentos na sua ainda mais lentíssima hecatombe…
Disseram-me uma vez que a madrugada seria branca e que
Cheiraria, promessas vagas e imprecisas com sabor a rúcula,
Ao azedum do leite derramado nas costas do poema e que,
Escorrendo, se veio a depositar, coalhado,
No espaço sideral entre os teus dentes…
Quando olho a vagina emoldurada pelas tuas alvas coxas
(Brancas como a madrugada que me foi prometida)
E suculentas-lentas-lentas no seu lentíssimo entreabrir de pernas,
Sei cheirar o suor que derramámos amanhã sobre as sílabas
Arrancadas à carne como roupas gentilmente violadas.
Não sei onde caíram os botões que saltaram da tua camisa, dizes-me,
(talvez estejam por entre os lençóis da cama)
Mas acabas por sorrir em silêncio quando o cantarolar
Da chuva batendo no meu peito abafa o cântico da tua poesia…