Ela apaixonou-se pelos olhos dele, ele pelos lábios dela. Jantavam e passeavam de mãos entrelaçadas, ela sempre contemplando-lhe a inocência do olhar, ele sempre apascentando-se nos movimentoso sibaritas da boca dela. Amavam-se noite adentro, até os corpos sucumbirem ao cansaço. Mas, à medida que as madrugadas avançavam, ele mantinha-se acordado e insatisfeito. Observava-a na cama, embalada pela penumbra interrompida pela iluminação da rua, as persianas desenhadas a sombra e luz no voluptuoso corpo adormecido. Um dia pegou num bâton vermelho e, levemente, para que ela não acordasse, pintou-lhe os lábios. Depois, agitou uma lata de chantilly e cobriu-os de branco, de doce. Por fim, comeu-os, mordiscando-os, sempre levemente, em pequenas dentadas, como fossem morangos.