11 fevereiro, 2010

S/título


Recém-descido da montanha, o sonho
Pousou-te nos lábios ainda molhados
Do orvalho, ligeiramente rosados à luz
Da estrela da manhã, e dançou,
Durante séculos, ao sabor da tua língua,
Ainda quente, ainda húmida, ainda não esquecida.
Mas quando te beijei, dois mil anos depois, senti
O gosto messiânico do teu sangue, misturado
Com o odor a podre exalado pela tua boca.
Oh, néscio, terás tu abraçado a coroa de espinhos
Entre os dentes? Porque escolhes tu partir o pão
Seco e reparti-lo entre as doze tribos quando
Nos podes beber a tenra carne a todos como se um só?