Hoje quero soprar para longe de mim as canseiras
Que me tornam o corpo pesado e lasso, que me sujam
Os cabelos na lama e mos enrolam à volta dos braços
Como pulseiras. Nunca me pensei cativo do meu próprio
Corpo nem cárcere dos meus versos. Quero cantar o verão
Que morreu em mim, no interior do peito que já murchou.
Contar, pétala a pétala, as flores do mal que Baudelaire
Plantou no seu jardim. Quisera eu enrolar-me em tempos
No corpo do Diabo e enamorar-me dos poetas malditos,
E rebolar-me na sua tinta como uma virgem promíscua
E voraz que saltita de cama em cama, não sabendo
Muito bem o que procurar – se é que demanda
Algo mais que o mero prazer da descoberta morfo-carnal.
Aqui proclamo a República Canibal de Alexandria!
Soltem todos os gatos pretos à rua e deixem-nos procriar
Sob o tecto estrelado que Dalí poderia ter pintado – ou
Cozinhado como um ovo.
Soltem todas as serpentes e enviem-nas, na vez
Dos pombos-correio, entregar as boas-novas a todos
Os habitantes do Éden.
Soltem todos os corvos e façam-nos pintar o céu
Com a cor dos seus bandos.
Soltem todos os poetas, decreto eu!
E não se esqueçam de me deixar os portões do inferno bem abertos
(sim, sim, bem abertos como diabólicas mandíbulas
Emoldurando uma bonita e rapada vulva – dentro da qual
Se vislumbra o focinho de um torpe e peludo lobisomem),
Porque eu também descer pelo teu corpo abaixo – e adentro,
Bem adentro… – e brincar com os gatos que se escondem
Nas sombras dos teus recantos, e com as serpentes que dormem
Enroladas nos caracóis dos teus cabelos, e com os corvos que te voam
Pela tua negra alma afora, e com os poetas que tu assassinaste
– atravessando-lhes a alma com a ponta metálica e da tua pretoriana língua…
Anda, dá-me a mão e eu levo-te pelos círculos do inferno.
Dá-me o coração e eu espremo-te as vinhas da minha poesia
Para dentro da tua boca. Em troca, só te peço que me oiças,,
Oh Psicópatra:
Dá-me Roma inteira incendiada
Ou não me dês absolutamente nada!