05 março, 2009

7 Poemas, Uma Vida (I)


Nunca, até hoje, da minha poesia
Se alimentaram muitos gatos
Ou nela saltaram ou ronronaram…
Talvez seja hoje o dia
Certo para fechar as cortinas
Das minhas janelas
E chamar o vadio que brinca na rua!
Vou deixar só a porta aberta
E um rasto de odor a peixe,
A carne despida de escamas, nua,
Como um longo e lascivo verso alexandrino,
Trilho que conduz
Um antigo instinto felino…
Quando dois olhos brilhantes
Reflectores da pouca luz
Saída do meu poema,
Assinalando a sua presença
À porta do meu poema,
Se encontrarem com os meus,
Vou pôr uma mantinha
– velha mas quentinha! –
Sobre as minhas pernas
E chamá-lo:
“B’ch b´ch b´ch b´ch b´ch b´ch
Anda cá bichano”…
E quando ele, pata ante pata,
Dançando e saltitando,
Se vier enroscar no meu colo
Sob o jugo da minha mão
A acariciar-lhe um lar no pêlo,
Vou simplesmente miar-lhe ao ouvido:
“Gato, amo-te
Como tu amas a liberdade,
Um ratinho de corda ou o novelo de lã”…