15 março, 2009

7 Poemas, Uma Vida (III)


Às matinais duas de um Janeiro frio,
Por cima da cidade dormente,
A noite geme com cio.
Onde está toda a gente?
Num bar talvez,
Mais um copo vazio…
Talvez no lar concupiscente
Longe do olhar alheio
Onde a moral perde o freio
E o corpo sente o que a vergonha lhe mente…
Ei-los, na rua,
Belos, loucos, felinos…
Ele, pardo como a noite que os cobre,
Cobre-a a ela, de pelagem nívea,
Com uma pesada e sensual brutalidade
Que tresanda à mais bestial lascívia…
Másculo e robusto, ele
Deposita, decidida mas ternamente,
Uma longa e dolorosa dentada
No pescoço frágil da sua fêmea dominada.
Consumado o amor que eles nunca mais lembrarão
Separam-se os corpos
Mas permanecem os líquidos e os cheiros em comunhão.
Ele para um lado, ela para outro,
Sentados na sua cama de lençóis de asfalto,
Limpam-se, cada qual a si mesmo,
Sem mais ternura, sem mais querer…
Quando aprenderá o homem que a vida
Não mais é que comer, beber e foder
E não necessariamente por essa ordem?
Quanto mais tempo se iludirá o Homem
De que o amor sabe melhor se pecado
E expurgado vezes sem conta
Pela absolvição de um acto não confessionado?