28 julho, 2009

agora


pelo lento andar do gato vadio na relva fresca
caçando pombos ou pardais certamente
e pela forma como o sol ainda se esconde
por trás dos prédios à minha esquerda
posso deduzir que ainda é relativamente cedo
o gato acordou com fome depois de algumas
horas de sono poucas que a noite foi preenchida
com outras caçadas e agora busca alimento agora
que os pássaros ainda estão encadeados pela luz
matutina
tudo agora deveria ser então claro para mim
é manhã cedo e este é o meu primeiro poema do dia
mas nada é claro nem quando iluminado pela luz
matutina
a folha que deveria ser branca está escurecida
por palavras já escritas e gastas no seu reverso
para além disso o café deixou-me um travo amargo
na boca e o café da manhã das minhas manhãs é sempre doce
devo então deduzir que já não é tão cedo agora quanto
eu gostaria e que na verdade esta é
a minha hora de morrer
agora
amanhã será outro dia veremos se o gato que certamente
voltará para caçar mais pardais ou pombos
me verá aqui outra vez sentado sentindo o vento
soprando por entre as páginas das árvores e as folhas de papel