05 dezembro, 2011

S/título


Guardo os ecos do tempo e de mim nas concavidades
das folhas como barcos de papel e nas linhas calejadas
das folhas e das palmas das mãos, no cansaço amarelo dos olhos
e nas rugas de um rosto rimado e permito que alguns
murmúrios se escapem como rugidos de tigres encarcerados
não!, como palavras vagas de um mar de poesia: sou caronte
levando os meus poemas para o outro lado de mim
e não necessariamente para o reino dos mortos:
na verdade desenterro-os da necrópole que sou como raízes
doentes de flores belas que sou e queimo-os no meio do rio que sou,
em hecatombe, no silêncio crescente que se instala entre
as sílabas líquidas e lívidas, no não-dito, em homenagem à vida.