Eis-me: o princípio e o fim de mim mesmo – não tenho idade nem local de nascimento.
Eis-me: a coroa de serpentes enroladas em galhos de amendoeiras que me diademam a cabeça – não tenho bilhete de identidade nem pago impostos.
Eis-me: o descendente do que nunca fui e o fruto do verbo na carne que amadurece como o tempo – não tenho nacionalidade, porém gosto de pensar que a minha pátria são as línguas portuguesas.
Eis-me: oscilando entre um pessimismo vitalista e um vitalismo pessimista, mais real do que o homem-casca que habito – não sou poeta, mas atiçador de palavras e escrevinhador de incêndios.
Eis-me: e quero que me dês Roma inteira incendiada – ou que não me dês absolutamente nada.
Eis-me: quem são eu?