21 novembro, 2011

Medusa


As vozes na ágora vespertina: a areia quente na cavidade nasal e na garganta:

o silêncio do quarto escuro e da folha branca: escuridão que se move

por entre os dedos.

As serpentes assobiam ao céu da boca em adoração cega –

O que sentes é amor, pura água fresca, no palco de uma tragédia grega

ensaiada no deserto.

O sangue quente escorre-te pelas coxas abaixo; e a esporra

pinga-te dos lábios para os pés: e tu esperas pelo momento certo

para te limpares, para te livrares dos teus segredos.

Mesmo sem cabeça, as serpentes continuariam a levantar-se

Assobiando sangue em vez de silvos; e nas flores enfermas,

Medusa, água mole em pedra dura tanto bate até que cura…