20 maio, 2009

7 Poemas, Uma Vida (VI)


À janela olha,
Observador,
O mundo como se desenrola
Perante seus olhos de gato-menino
Farto do conforto do quarto
Curioso de aprender o que não sabe.
Da esquerda para a direita, uma senhora
E um senhor, lado a lado, sem conversar;
E no sentido inverso, duas crianças a brincar;
Atrás de um carro estacionado um cão
E os carros na estrada passam sem parar,
Dia e noite…
Dia após dia…
Noite após noite…
Semana após semana…
Mês após mês…
Ano após ano…
Nuvem após nuvem, ora secas ora carregadas de água,
Ah como gostaria de se molhar e de fugir à chuva!
Sol após sol, ora tapado ora descoberto,
Ah como gostaria de sentir a luz quente na pelagem!
Vida após vida…
E o gato-menino
Um dia descobre
O seu reflexo no portal vítreo
Que reflecte o reflexo do seu olhar felídeo
Onde se reflecte assanhada a sua alma:
O gato-menino é já gato-velho,
Tem o pêlo gasto e a alma assanhada
Domesticada…
E o gato, menino velho, velho menino, gato!,
Vira as costas à janela,
Vai beber leite na sua tigela
E procura um sítio escuro para dormir
Em silêncio…