20 maio, 2009

7 Poemas, Uma Vida (VII)


Vejo-o no vazio,
Sinto-o na ausência,
Sombra saltando na sombra,
Nas sombras se movendo
Elegante,
Felino,
No silêncio da memória que o não esquece
Fora da moldura incapaz de o prender
No espaço
Ou no tempo…
Ouço-o com a pele
Arrepiada ao som das suas pegadas
De rei-caçador
Farejando a sua presa imóvel,
Invisível – quão invisível –
Inexistente excepto no odor a brincadeira
Que o dançar serpenteante do seu rabo denuncia…
Sinto-o na ausência
Nos cantos escuros da casa que foi sua
E da memória que o não esquece…
Tenho-o comigo
Aconchegado no coração
Como aconchegado estava da primeira vez
Que escolheu para sua cama o meu colo
E fez da minha pele e da minha carne
A pele e a carne suas
Amassando pão com as garras afiadíssimas
Na pele e na carne nossas.
A minha alma cheirou as janeiras,
Deixou-me com as memórias e o fio de juta
E não sei se alguma vez irá voltar…