06 maio, 2009
licantrópico de câncer
eis o centro do universo o ralo da banheira
por onde a água suja do meu banho se escoa
apenas um punhado de cabelos misturados
com sabão permanecem vivos tudo o resto morreu
sugado pelo pequeno buraco negro debaixo dos meus
pés
.........todo o cosmos perdeu a sua cor e a banheira
.........voltou a ter a sua característica cor branca
.........como folhas de amendoeiras albinas
eis o afterlife o espelho onde sulco
versos na superfície plena de água vaporizada
quando penteio os cabelos molhados
não me vejo devido ao efeito de condensação
da água
...............limpo a lagoa do poema com a palma da mão
agora já te vejo
olhos negros como o ralo da banheira por onde todo
o universo se escoou cabelos longos e entrelaçados
como os fios da história que nunca contaste os dedos
secos pelo hálito das palavras a boca aberta
como uma vulva promíscua acenando a língua à multidão
de sentidos e o espaço inter-dental colorido pelo sangue
das gengivas que se vazaram
.....................................................as tuas gengivas albinas
pulmões secos e ressequidos no lican–
–trópico de câncer
Engavetado em
Alexandre Homem Dual,
Op. "nova alexandria",
Poesia
"O que faço?/
Sou músico./
O que toco?/
Poesia."