Os galhos dos salgueiros esticam os dedos na direcção da praia
Onde dança a tua voz, confundindo-se com o som das ondas
E com o sabor da maresia; os salgueiros estão lá no morro de onde
Te espreito: descalça pisando as areias quentes sob os teus pés
– nua nadando por entre um mar de mescalina. Lá onde eu morro
Já antes de mim morreram outros, mil outros mais, diabos e anjos
Cujas ossadas foram já desfeitas pelo lento languidescer dos séculos
E pelo peso do teu corpo e da tua voz. Faço-te adeus, apesar de me
Não veres – aqui invisível aos teus olhos me prostro a morrer, acenando
O sol que se deita para lá do horizonte na tua cama. E os gemidos
Delicados das ondas que beijam a praia levantam das suas sepulturas
Os espíritos de todos aqueles outros que morreram já antes de mim:
Uma tribo de índios, uns velhos e outros novos, estes de peito duro
E castanho queimado pelo sol que reina alto, aqueles de peito mole
E castanho queimado pelas fogueiras à beira das quais se habituaram
A dançar. E dançando e cantando para lá da morte continuam:
Inda he inda he inda he indahehe! Inda he inda he inda he indahehe!
Ainda te ouço mas já te não vejo; o cântico dos índios ecoa pela tua garganta
– ou a tua presença pela garganta deles, quem sabe? Eu só sei que hoje é
Uma boa noite para morrer: por isso dançarei na companhia dos índios,
Promíscuos, felizes, ao som da tua cantiga de embalar.
E quando me deitar, tal como o sol se deita para lá do horizonte na tua cama,
Esticarei os meus dedos uma última vez e colherei um punhado
De folhas de um salgueiro dobrado pelo teu sopro (sim, eu sei que me esperas lá
Na linha do horizonte); e espalhá-las-ei, jogando-as ao ar, sobre o meu corpo
Nu e prenhe de música – e de imortalidade.