Canta, de olhos fechados, com a sua voz de fumo,
O país de sonho que lhe foi sussurrado nos seus sonhos.
Conta, com a sua voz de fumo, de olhos cerrados,
As trágicas maravilhas de um povo que carrega o luto
Nas palavras e nos gestos solenes e gastos, monárquicos
Mesmo no seio da mais baixa ralé republicana;
As maravilhosas tragédias de um povo que, desnudo
Descalço, desdentado, avança para o mar em barcaças
Apenas tão duras quão duros são os calos das mãos
E com velas tão pandas quão pando pode ser
Um mar de negros xailes vogando no horizonte.
Cerradas as pálpebras, persianas das janelas da alma,
Resta imaginar o sonho de um punhado de capitães,
Os tais que desabrochariam em Abril, os tais que sem sangue
Vingariam as costas marcadas pelos chicotes e pelos cigarros dos
Putrefactos, insolentes, desumanos, energúmenos
Verdugos de um fadário que se vestiu a preto e branco.
Inspira, de olhos enclausurados, o último suspiro do adeus ao [passado;
O primeiro florir da manhã que se adivinhava nas cores ainda por [descobrir…