09 abril, 2010

S/título


As manhãs sempre trazem o sopro de uma nova vida,

Uma vida que vem não substituir e apagar a anterior e todas

As anteriores antes da anterior a ser apagada e substituída, mas

Simplesmente juntar-se, como numa amálgama de vidas

– e de mortes, claro – à complexidade de redes e de signos em que

Se torna a vida – ai a vida, a vida. Talvez fosse mais fácil

Falar de mortes, claro; de mortes e de mortos: os mortos não respondem,

Ainda que lhes falemos na obscuridade da noite ou que deles falemos

Pelas costas. Mas às vezes os mortos respondem, diz-me uma voz soprada

Por uma nova manhã. Às vezes os mortos respondem e riem dos que cá

Ficaram. Cientes de que nunca voltarão. Mas riem em silêncio, [aprendizes

Que são dos magistérios da vida eterna. Os silêncios são de ouro, aprendi

Com uma velha que poderia ter sido minha avó; e os mortos viajam

Depressa e com um sorriso crepuscular nos lábios lívidos.

Ai a vida, a vida… pantanosa, palúdica, a vida…