S/título
As manhãs sempre trazem o sopro de uma nova vida,
Uma vida que vem não substituir e apagar a anterior e todas
As anteriores antes da anterior a ser apagada e substituída, mas
Simplesmente juntar-se, como numa amálgama de vidas
– e de mortes, claro – à complexidade de redes e de signos em que
Se torna a vida – ai a vida, a vida. Talvez fosse mais fácil
Falar de mortes, claro; de mortes e de mortos: os mortos não respondem,
Ainda que lhes falemos na obscuridade da noite ou que deles falemos
Pelas costas. Mas às vezes os mortos respondem, diz-me uma voz soprada
Por uma nova manhã. Às vezes os mortos respondem e riem dos que cá
Ficaram. Cientes de que nunca voltarão. Mas riem em silêncio, [aprendizes
Que são dos magistérios da vida eterna. Os silêncios são de ouro, aprendi
Com uma velha que poderia ter sido minha avó; e os mortos viajam
Depressa e com um sorriso crepuscular nos lábios lívidos.
Ai a vida, a vida… pantanosa, palúdica, a vida…