06 janeiro, 2013

Perséfone


Num movimento singular de ancas, ela montou-se
nas palavras e apertou o corpo musculado
do poema entre as coxas, sentindo
o pêlo suave e suado da besta
a roçar-se-lhe
pelo sexo
molhado,
jovem,
quente...
Nos dedos frios
sentiu a crina da sua própria
cabeleira - e, puxando-a, arrancou
à sua face a máscara do espelho que resfolegava
a linguagem ctónica da morte amordaçada por rédeas douradas...

Abre os braços e agita os ombros como se quisesses voar,
como os teus pés fossem raízes crescidas, nos céus do amanhã,
das nuvens negras de uma noite de procela - minha Perséfone,
abre a boca para o céu e engole as sementes da minha romã.