09 janeiro, 2013

S/título


Aqui neste sítio das tardes tenras, lentas, monótonas
e vestidas de veludo, de onde espreito o sol que,
langorosa e entediantemente, se afunda no mar
como se para dentro de mim, arquitecto com os olhos
barcos feitos de sonhos e de velas sopradas
pelo ar quente dos pulmões que, sendo parte
do meu corpo, não são realmente parte de mim.
Contemplando ao longe e ali tão perto a réstea
de luz que se apaga no horizonte e que se confunde
com os rastos espumosos por onde passei meu olhar,
invento no papel frotas novas de velhos navios cujos porões
vão cheios de pensamentos altos e sublimes, do cimo
dos quais se pode descobrir esta tarde onde
eu de mim mesmo me desaguo no acenar aos cardumes
de estrelas que nadam pelo céu já negro do mar…