Hoje é dia de mudar hábitos
E ser eu. Ou de ser
Eu um outro. É dia de sair
Do claustro onde a chuva
Só chega na forma de sangue
E de pecado. Hoje é dia
De acender cigarros, mil,
Repetidamente (mas não fumá-los;
Ao invés, vê-los consumir-se,
Um por um, um por outro,
Como faróis de carros descendo
Uma avenida em hora de ponta
E alcatroando-se pelo horizonte)
Sem que o tempo lhes possa acudir.
É dia de me sentar à beira-mar
Ou no fundo de um rio talvez,
Sentindo a água doce ser tomada
Pelo gosto do sal... é dia de
Inventar uma palavra nova ou
Até talvez se a maré estiver
A vazar e as amêijoas saltarem,
Promíscuas, da lama para os meus
Braços, para o meu colo,
De escrever uma nova teologia.
Mas agora hoje já é fim de tarde
E este sol não se voltará a pôr,
Outro amanhã virá mas este
Não nunca mais...
A noite é escura. E hoje,
Às onze e onze em ponto,
Vou deixar-me ir no barco de
Colombo, até ao outro lado do mundo
Onde dançarei com os índios.
Nu. Promíscuo. Feliz.